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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

RECONEXÕES

Peter Paul Rubens- Vênus, Cupido, Baco e Ceres (1613)

Durante a minha infância eu fui criado dentro do catolicismo, aos 12 anos eu fiz minha primeira comunhão e após isso larguei definitivamente a igreja. Desde então, tenho me considerado ateu e nunca senti necessidade de me conectar com nenhum tipo de divindade ou me integrar a nenhuma religião. Recentemente, eu passei por um processo de redescobertas pessoais e entre os tópicos desse processo de redescoberta, eu percebi que a minha espiritualidade era algo que na realidade ainda possuía alguns pontos de soltos.

Nos últimos seis meses, um processo natural de “chamamento” a uma forma de espiritualidade me ocorreu. Desde criança eu tinha uma ligação muito forte com a natureza. Essa minha conexão se deve ao fato de que durante toda a minha infância, eu passava os meus finais de semana e férias oscilando entre as casa dos meus avôs e o sítio do meu pai. Nesses espaços, eu estava completamente imerso no mundo natural, longe de todo a lógica que rege uma vida urbana. Eram espaços para experimentação e contemplação da vida dentro de todos os seus processos, desde o nascimento de filhotes de animais a germinação do solo, a morte e todos esses processos que acontecem na vida, mas que muitas vezes por estarmos tão distanciados dessa percepção que a zona rural nos oferece, acabamos não percebendo.

Por volta dos meus 14 anos, eu fui perdendo esse contato com esse meu lado rural, pois as cobranças do cotidiano e os meus projetos pessoais foram me distanciando dessa minha faceta. Nos últimos meses, e talvez, isso seja resultado de um longo processo de distanciamento de uma concepção de vida pautada por inúmeras coisas danosas correntes em nossa sociedade, coisas essas que eu tenho pontuado diversas vezes durante o período em que eu escrevo nesse blog, me fizeram perceber que talvez fosse a hora de parar um pouco, respirar ares mais puros e me reconectar com esse meu lado espiritual adormecido.

Tendo isso em vista, segui o conselho de Rilke em “Cartas a um jovem poeta” e vasculhei dentro da minha alma as minhas necessidades. Voltei para minha infância e adolescência e percebi como muita coisa dentro desse  processo de assumir responsabilidades  e crescer acabaram me levando para longe coisas que faziam parte de minha essência. Foi a partir desse momento que eu tomei uma retomada de consciência de mim mesmo e das coisas que eu precisava para ser feliz e entre esses pontos, a minha reconexão com esses ciclos da natureza se fez presente e me calou fundo.

Desde então, tenho me dedicado a estudar as religiões da terra, para compreender melhor esse tipo de espiritualidade, e ainda que eu não me veja como integrante de nenhuma religião oficial, eu começo a enxergar o mundo e a própria questão da “divindade” que para mim sempre foi uma coisa muito confusa através de uma nova perspectiva. Alguns autores tem me ajudado nesse processo e para ser mais preciso, acho que seja necessário citar dois nomes,o primeiro deles é Fritjof Capra que é um físico e teórico austríaco, residente nos Estados Unidos que tem dedicado a sua vida a escrever livros de propaganda do “pensamento sistêmico”, isso é, uma nova forma de pensar a realidade, diferente do modelo herdado através de um concepção "reducionista-mecanicista" fruto do pensamento dos filósofos da Revolução Científica do século XVII, pensamento que ainda que em processo de declínio, pode ser considerado ainda como o modelo vigorante de pensamento na sociedade ocidental contemporânea. Nesse sentido, o pensamento sistêmico sério então uma antíteses do pensamento reducionista-mecaniscita, que é descrito pela Wikipedia da seguinte forma: 

“O pensamento sistêmico não nega a racionalidade científica, mas acredita que ela não oferece parâmetros suficientes para o desenvolvimento humano e para descrição do universo material, e por isso deve ser desenvolvida conjuntamente com a subjetividade das artes e das diversas tradições espirituais.”¹

O segundo autor é o Scott Cunningham, um escritor que tem como temática principal a Wicca e outras praticas religiosas alternativas. Boa parte de sua obra é dedicada aos chamados “praticantes solitários” (Uma modalidade religiosa comum dentro da Wicca, e que durante muito tempo foi bastante criticada dentro da própria religião, já que inicialmente a Wicca era uma religião exclusivamente iniciática.). Mas o que há de mais inovador entre todos os aspectos da sua obra, e é o que mais chama atenção, é o incentivo que Cunningham faz ao processo de obtenção de conhecimento e vivência espiritual através da leitura/estudo, da observação e da experimentação. E nesse sentido, ele defende a ideia de uma liberdade espiritual enorme por assumi que o processo de conexão com a espiritualidade é um processo individual, onde cabe a cada um encontrar a melhor forma de se reconectar com seu lado espiritual.

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